Como prometido, nesta última postagem de 2019, vou falar da canção-título do CD Quermesse Maluca, uma parceria minha com Paulo Madio. E, para comentar a gravação da canção, tenho que retroceder um pouco mais no tempo, a fim de relembrar o momento em que conheci o cantor convidado a interpretá-la.
Quando Paulinho estava concluindo o arranjo de “Quermesse maluca”, percebeu que a pegada roqueira da canção se ajustaria muito bem à voz de Bruno Prada, que eu havia conhecido tempos atrás, por meio de meu irmão. Não sou capaz de afirmar, mas acho que conheci primeiro a voz e depois a pessoa de Bruno. Lembro-me que ouvi e curti muito uma gravação que a banda Os Caras, da qual Bruno era o vocalista, havia feito ao vivo, em estúdio, para o programa Kiss Club da Rádio Kiss FM, no fim do ano de 2003.
A banda Os Caras tinha a seguinte formação: Bruno Prada (vocais e violão), Alê Magno (cajón) e Cristóvão Rodrigues (violão solo e vocais). Para a gravação do programa, juntaram-se ao trio Marcos Bispo (contrabaixo) e Rodrigo Tostines (gaita – e que gaita!). Recordo-me que gostei muito das cinco canções executadas durante o programa, sobretudo do arranjo para a composição “Old Love” (1989), de Robert Cray e Eric Clapton, em que se destaca o diálogo de solos de gaita do Tostines e de violão do Cristóvão, além da interpretação vocal intensa e envolvente do Bruno. Na primeira estrofe, a voz do Bruno é suave e delicada, para ganhar corpo e se avolumar, com emoção, na segunda estrofe, quando a melodia da canção cresce. Confiram e me digam se estou errado.

Bruno Prada, nos estúdios da Rádio Kiss, em 2003.
O tremido na voz de Bruno, que pode ser comparado ao efeito do pedal de drive da guitarra, chamou minha atenção, até porque o timbre de minha voz sempre passou longe desse recurso. Concordei com o Paulinho que devíamos chamar o Bruno para interpretar a canção “Quermesse Maluca”, a última do CD. E então eu fui até o escritório de projetos arquitetônicos onde o Bruno trabalhava, para convidá-lo a participar das gravações. Com sua simpatia e disponibilidade, ele topou a parada na hora.
No dia marcado para a gravação, Bruno ainda deu uma canja no estúdio e integrou o coro da primeira canção do CD, intitulada “Convite”, fato que eu mencionei no oitavo post desta série: “8. Incursões na música infantil”. A letra da canção “Quermesse maluca” é a mais longa do CD, e o arranjo apresenta mais variações melódicas. Tratava-se da música teoricamente mais difícil de gravar, em termos vocais. Paulinho há de confirmar esta informação, mas Bruno tirou a gravação de letra, registrando tudo em pouquíssimos takes. Pegou a letra e a melodia rapidamente, foi para a cabine de som e mandou ver, ou melhor, ouvir, gravando a canção num curto espaço de tempo. Por ser a composição que representa a festa da quermesse, sintetizando tudo o que acontece nela, Bruno acabou se tornando “a voz da Quermesse Maluca”. Confiram como a gravação ficou.
No evento de lançamento do CD, em 2005, Bruno cantou a canção ao vivo, junto comigo. Foi uma das raras vezes que dividimos o palco para cantar. Outra vez de que me lembro foi durante um Churras do Guga, célebre festa de amigos músicos que é organizada todo ano na casa do vocalista Gabriel Alonso, reunindo a galera que gosta de rock’n’roll. Cantamos “Unchain my heart” (1961), canção de Bob Sharp, gravada originalmente por Ray Charles e depois por Trini Lopez, Joe Cocker e Hugh Laurie, entre outros artistas.
Além de integrar a banda Os Caras, Bruno Prada participou de outros grupos musicais ao longo da carreira: Falange Rock II, Skaphatrill, Dose Tripla, Certo Diablos, Go Ahead. Esta última banda era formada pelo Bruno, nos vocais e violão, Kleber Kashima, na guitarra, Fernando Porto, na bateria e nos vocais, e Fábio Sena, no baixo. Selecionei para esta postagem o cover da canção “Enter Sandman” (1991), de autoria de Kirk Hammett, James Hetfield e Lars Ulrich, da banda Metallica, que o grupo Go Ahead gravou no Pró-Stúdio, de Cássio Martin, em agosto de 2014. Um detalhe que me chamou a atenção foi a participação do sobrinho de Bruno, Gabriel Prada, então com 10 anos, num trecho vocal, assim como eu havia feito com meus sobrinhos na gravação da canção “A viagem do Capitão Balão”, que também integra o CD Quermesse Maluca e foi apresentada no décimo post do blog, anterior a este: “10. Música infantil para crianças… e adultos”. Confiram a interpretação forte e a voz rascante de Bruno nesta faixa.

Bruno e seu sobrinho Gabriel Prada, durante gravação da canção “Enter Sandman”, no Pró-Stúdio, em agosto de 2014.
Em 2014, Bruno Prada participou do clipe de Natal do grupo Trinca Acústica, que reuniu vários amigos de bandas da noite, interpretando a canção “Happy XMas (war is over)” (1971), de John Lennon. Bruno, aliás, chegou a tocar com a Trinca Acústica em várias oportunidades, fazendo os vocais quando Eduardo Emílio não podia estar presente, em razão de outros compromissos. Assistam ao clipe e vejam a turma da pesada que participou dele:
Em setembro de 2018, depois de cantar “Suspicious Minds” (1968), canção de autoria de Mark James, que ficou famosíssima na voz de Elvis Presley, Bruno Prada não se sentiu bem e desmaiou. Estava no meio de uma apresentação da banda Go Ahead, no palco do bar The Blue Pub. Infelizmente, foi seu último ato musical. Alguns dias depois, Bruno nos deixou, precocemente,em decorrência de um AVC. Mais de um ano já se passou, mas sua voz não se calou e continua a ecoar nos registros sonoros e audiovisuais feitos durante sua brilhante carreira. Quanto a nós, cabe-nos registrar esta homenagem à sua memória e, ao mesmo tempo, seguir o conselho contido no nome de sua última banda: ir avante, sempre em frente. Valeu, Brunão! Go ahead!

Bruno Prada (26/6/1978 – 8/9/2018).
Abraços natalinos!
HF.